Por que eu odeio os VIP’s

Bernardo Kircove
blog du K.
Published in
3 min readMay 12, 2013

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Antes de mais nada, devo avisá-los: este não é um texto revolucionário anti-burguês. Nada contra, mas não o é em sua essência. É um manifesto do meu desgosto pela cultura VIP que vemos por aí.

Eu acredito em produtos e serviços — e acredito no preço deles. Você paga por algo e o recebe em troca. Às vezes, você paga mais por um produto superior. Acho justo e natural, dado o modelo econômico em que vivemos. Se você tem o dinheiro e a motivação por pagar mais, vá em frente: pague mais por mais conforto, qualidade, atenção e o que mais estiver incluso no seu ingresso exclusivo.

Existem duas discussões (bem) maiores aqui que eu não vou me propor a tocar. A primeira é o modelo econômico-social que citei. É injusto e certamente não é o melhor deles. Mas é o que temos agora e devemos pensá-lo como ele é. Podemos lutar para mudá-lo também, mas — como ressaltei — não é minha proposta no momento. A segunda discussão é a qualidade mínima recebida ao pagar o menor preço. Deveria ser satisfatória, mas quase nunca é. Isso é a base da injustiça. Mas sigamos em frente.

Acontece que fui a uma festa há algumas semanas. Era aniversário de um amigo e compramos o ingresso mais caro. Olhamos os preços, o que era oferecido em cada um dos níveis e acreditamos que valia a pena. Não me senti mal por isso. Pagamos mais por um produto melhor. Era uma área separada e com o bar aberto. Bar aberto costuma ser um argumento definitivo pra gente.

Aí que mora o pulo do gato. Dentro da área que já era previamente segregada pelo preço pago (na qual eu me esforço para não me sentir mal em pertencê-la), existia o curral VIP. Um quadrado delimitado por umas cordinhas, onde o VIP da vez determinava quem estaria apto a juntar-se. É o tipo de coisa que existe em qualquer lugar hoje em dia. É esse o conceito que me dá náuseas e condeno aqui.

Me dá náuseas porque essas pessoas se auto-segregam, em teoria, pelo significado literal da expressão: pessoas muito importantes. Acontece que, na sociedade que integramos, pessoas muito importantes são, basicamente, pessoas que tem muito dinheiro. Mais dinheiro que os outros. Mais dinheiro que só o necessário para pagar pelo produto mais caro da situação. Então, como não há um nível superior para adquirir, segrega-se assim mesmo. O bacana é que nunca haverá um nível superior o bastante para que não haja alguém “importante” o bastante para ultrapassar.

A contradição é linda. Vivemos em um mundo pautado pelo seu poder de compra. Seu poder de gastar. No entanto, não é preciso gastar dinheiro para ser VIP. Basta ter dinheiro. É algo como: -Hey, amigo. Eu já sei que você tem muito dinheiro. Não precisa gastar ele. Entra aqui no nosso curralzinho de quem tem muito dinheiro.

Então, você passa a separar as pessoas pela quantidade de dinheiro (e influência) que elas tem. Separar pessoas pela quantidade de dinheiro que ela gasta já é bastante perturbador, mas isso passa os limites do bom senso. É um câncer social bem preocupante.

A essa altura, eu reli o que escrevi e parece realmente péssimo. Parece um típico manifesto daquela constrangedora classe média sofrida, que tem mais dinheiro que 95% do mundo e preocupa-se em lamentar por não fazer parte dos 5% restantes. Muitos dos que me leem agora não me conhecem o suficiente para saber que não é exatamente assim que eu penso. É o risco que se corre.

Enquanto eu corro esse risco, vou torcendo pelo dia em que iremos separar as pessoas boas que fazem o bem. Mas elas irão abrir a cordinha pra todo mundo. Esse é o motivo delas estarem lá, de qualquer forma.

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