O Mito da Felicidade

Bernardo Kircove
blog du K.
Published in
3 min readApr 27, 2013

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Entre todos os regimes autoritários que o mundo produziu até hoje, vivemos agora o mais perverso deles: a Ditadura da Felicidade.

De alguma maneira, conseguimos criar nós mesmos a ilusão de ser feliz eternamente. A crueldade da questão mora em sua amplitude: ela passa ao largo das discussões filosóficas-morais e atinge a todas as camadas. É um mal democrático.

Desenvolveu-se a falácia comportamental de que a vida é uma Grande Guerra, opondo-se nela a felicidade e a tristeza. Por conseguinte, deveríamos combater ao lado da primeira em busca da vitória homérica. Fincar a bandeira do feliz na vida e morrer tranquilamente.

Bem, adivinha só: não existe felicidade. Não há motivo para pânico, no entanto. A tristeza inexiste igualmente.

Vemos sorrisos para todos os lados; amarelos, a maioria deles. Forçamo-nos a fingir um estupor feliz porque a sociedade demanda isso. Não há lugar para o semblante sério no nosso mundo.

A começar pelo canhão publicitário, que bombardeia a felicidade em pantones maravilhosos e frases espertas. Sutilmente — quando bem feita — nos indica também os caminhos para tal. Aquele carro incrível, o cabelo escorrido e o evento imperdível. Se você não é feliz, incline-se às maravilhas modernas e faça parte da multidão alegre. Nós entramos e reproduzimos essa onda. É mais fácil falsificar a felicidade quando se tem o celular mais bacana do momento.

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Nada é melhor para você que um plano de aposentadoria para morrer velho e feliz em Belize. Assine o cheque e seja feliz, camarada.[/caption]

A rede virtual é o maior espelho da armadilha. Ninguém é tão feliz quanto mostra seu Facebook — ou você acredita nisso?! É, amigo, não importa o número de sorrisos que você compartilha. Eu sei que você não está sorrindo o tempo todo. A boa notícia é que isso é normal.

O que esqueceram de dizer não é uma epifania complexa. É tão óbvio que enoja. Acontece que a vida é feita de pequenas batalhas, sem um objetivo-mór aparente. Ganha-se algumas, perde-se outras. E é aí que você é feliz às vezes, e triste noutras tantas.

Existem momentos felizes e momentos tristes. Nossa luta é para que os primeiros sobreponham-se aos segundos. Torçamos e briguemos por isso.

Não existe o riso sem o choro. A beleza da coisa é que isso não os torna antônimos, necessariamente. Rirmos, para depois chorarmos, para depois rirmos de novo, e assim caminharmos.

Não se torture. Tente rir mais do que chorar. Trabalhe por isso em você e nos outros. Mas entenda que felicidade e tristeza não são definitivos. A vida de ninguém é inteira comédia-pastelão ou drama pesado. Vivemos tragicomicamente.

Sorria, sim. Vá em busca das pequenas vitórias. Mas não morra em batalha. A derrota de hoje é o aprendizado do futuro. O choro de hoje é o riso de amanhã. Nada é tão triste que valha uma vida; nada é tão feliz que supere todas as dores.

bk

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