nota prolixa pseudo-política

Bernardo Kircove
blog du K.
Published in
3 min readMar 25, 2015

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um exagero de vírgulas, adjetivos e advérbios
para um tempo de exageros proferidos em luzes de normalidade

Eu to feliz. Feliz porque há luz no fim do túnel.

Como sabe-se, fez-se o Brasil por 515 anos de história (126 de cousa pública) onde corrupção casou-se em união estável com a política, mesmo que pulando a cerca em relações carno-lucrativas também com a iniciativa privada. Tudo em casa, com a bênção de uma impunidade que transita livremente entre todos os convidados da cerimônia (e da suruba).

Ora, pois que depois de tanto, parece que encontrou-se a solução, anunciada nos sons agudos das panelas ao vento de varanda. Agudos estes devidamente megafonados por veículos estranhamente interessados.

Acontece que a extinção dos males expurgos nacionais acompanha a destruição homérica-ufanista dos corruPTores, que exalam as mazelas tupiniquins, ao que se demonstra, desde as capitanias hereditárias. Vê-se que dependurar as cabeças líderes torna-se ato fundamental à libertação nacional das amarras que nos sempre prendeu à governos mal-fadados, desde compadre Deodoro. Líderes que, ora levam as graças de sapo, vaca ou qualquer ofensa que o valha, mas em geral são mesmo denominados de Filho-da e a própria Puta em pessoa. Porque se é para endurecer-nos em luta contra o mal maior, que se foda a ternura.

É fato, portanto, para os epifânicos que encontraram a raiz de todas as merdas, que nessa terra onde plantando tudo dá (menos os 10% de quem deixou plantar), problemas hão de resolver-se por si só no momento que forem derrotados (ou derrubados ou assassinados ou golpeados) aqueles que nos governam há 14 anos. Não parece ser relevante reestruturar a mise-en-scène eleitoral e discutir tópicos abafados, como os mecenas de comício, foros privilegiados e quantos mais — assuntos estes os quais nada entendo a não ser a superfície, o que me configura por não ter a cara de pau-Brasil em bradar a solucionática para aquilo que aflige tanto a Oiaporte quanto a Chuí, desde o tempo que Don Don maltratava a redonda na relva carioca, muito menos radicalizar-me em torno de que quer que seja. Entende-se que, se há algo pior que a radicalização por si só, é a radicalização ignorante.

Salienta-se, é claro, que embora perturbado pela aclamada epifania, também apreço que se explodam a seco todos os lava-jatos. Tal perturbação, no entanto, não faz de mim nem meu eu-lírico um Petista (ou petralha, a que depender dos seus modos). Apesar de já ter sido católico, budista, protestante, com livros na estante, todos tinham a explicação — salve Raul.

Mas a verdade é que, ante a iluminação de meus compatriotas, sejam azuis, vermelhos ou cor de burro quando foge, a qual creio assemelhar-se ao marrom, brado apenas que, em face de não possuir eu mesmo a solução para que a Terra Brasilis floresça, motivando minhas panelas à função simplória de cozinhar, e lembrando-lhes que a própria vida é luz, os discursos de ódio não irão botar abaixo todos os tijolos de Brasília — nem mesmo os superfaturados de 1960, corrompidos bem antes da fundação do partido supracitado no feicibuque. Lembrar-se-á que o revolucionário é, em sua essência, movido a belos sentimentos de amor.

Despeço-me pois, e torço para que nem todos estes que me honram com a leitura pro-ativa possam compreender em plenitude esta última referência, visto que a própria arrisca acabar servindo-me apenas para ganhar mais inimigos (não que eu os tenha, mas, nesses tempos bipolares, há que se ficar de olho).

bk

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