Have fun. Make money.

Um relato de quatro meses na 500 Startups, em um dos programas de aceleração mais respeitados (e divertidos) do mundo.

Prólogo

Se você quer saber, superficialmente, o que é a 500 Startups, leia a seção . Se você quer saber sobre o processo de seleção, leia as seções e . Se você quer saber sobre o programa de aceleração em si, leia a seção Se você quer saber sobre isso tudo e mais minha experiência na 500 Startups com o , leia o artigo inteiro.

“Come talk to me”.

Eu falei a última palavra do meu pitch, ensaiado exaustivamente na últimas semanas. Parar por alguns segundos, sorrindo e olhando para a plateia, não era um movimento planejado. Mas assim o fiz, antes de deixar o palco. Era um misto de alívio e orgulho. Três minutos antes, eu entrara no auditório para contar nossa história, ao som de um “Here comes the sun” interpretado pelo Bloco Sargento Pimenta no carnaval do Rio.

No dia 12 de agosto de 2015, encerrou-se a participação do Edools no programa de aceleração da 500 Startups. Nós fomos a única startup brasileira do Batch 13. Esse texto compartilha com você, empreendedor ou curioso, como foi a minha experiência de passar quatro meses no Vale do Silício, imerso em uma das aceleradoras mais respeitadas do mundo.

Deu até para tirar foto igual figurão do Vale.

First things first.

Elton e Emília, founders da Contentools e amigos de longa data do Edools, estavam no pico da experiência 500 à época da nossa submissão para o Batch 13. Juntos ao Linte, eles eram os representantes brasileiros do Batch 12 — e grandes incentivadores para que nós aplicássemos para a aceleradora.

Não era a primeira vez que considerávamos a ideia, no entanto. Alguns meses antes, o assunto também veio à tona e nós decidimos, de última hora, tentar entrar no B12. Nossa submissão foi no último dia e foi uma bosta. Além disso, o Edools, apesar de sólido, ainda não tinha os números que viriam a ser fundamentais na nossa aprovação, meses depois. Não passamos nem para a segunda fase: a entrevista. Mas os amigos da Contentools entraram, confirmaram que valia a pena, e incentivaram que aplicássemos novamente para o B13.

Desta vez, estávamos dispostos entrar. Fizemos o dever de casa: nosso application estava ótimo. A reprovação no Batch anterior não afetou muito nossos ânimos, porque não havíamos nos dedicado. Com alguma segurança, posso dizer que se fôssemos reprovados novamente o baque seria dez vezes maior. Havíamos investido tempo e queríamos entrar.

No dia 30 de março, recebemos a oferta da 500 Startups para nos juntar ao Batch 13.

O processo.

O processo seletivo é feito através do AngelList. Por lá, você submete um tanto de informações sobre o seu negócio. Qualquer um pode aplicar. O conteúdo não difere muito do padrão: problema, solução, time, produto, unit economics e por aí vai. Você também precisa fazer um vídeo.

De antemão, eu aviso que não se sabe em detalhes como funciona e quais são os critérios de seleção. O que eu escrevo aqui são minhas impressões depois de conhecer de perto a 500. Longe de serem informações oficiais.

Esta primeira aplicação passa pelo time da 500, que vai selecionar ou não sua startup para a próxima fase. Muita gente (do time da 500) tem acesso aos applications. Você estará em uma situação confortável se conquistar o coração de um deles — parece óbvio, mas eu explico já já.

Um indicação formal, via email, de founders e/ou mentores da 500 Startups é seu passaporte para ter seu application notado. Sabendo disso, nós acionamos a nossa rede, buscando indicações. Note-se: indicações na amizade não rolam. Todos os contatos que abrimos foram de pessoas que já conhecíamos, porém com todas fizemos um Skype para conversar melhor e atualizá-los sobre nosso negócio. Alguns nos indicaram, outros não se sentiram confortáveis em fazê-lo.

Antes de você pedir uma indicação para mim ou para os meus sócios, Rafael e Maurilio, leia a seção , ao final deste artigo.

A segunda e última (ou não) fase é a entrevista, presencial ou via Skype. Aí, amigo, você vai conversar com o time da 500 e não tem muita ciência a respeito do que eles vão te perguntar. Não há o que se preocupar, no entanto. Vocês vão conversar sobre o seu negócio e você, como founder, provavelmente vai saber falar sobre qualquer coisa. A incerteza é se eles vão gostar das suas respostas ou não. Como qualquer outra interação deste tipo, você também pode aplicar algum tipo de estratégia ou no mínimo tentar encaminhar a conversa para o assunto desejar.

Depois da entrevista, eles dão o veredicto sobre quem formará a turma.

Eu comentei sobre conquistar o coração de alguém, certo? Isso é importante porque, no processo de seleção, um “strong yes” é fundamental. Ou seja, quando a 500 senta na mesa para discutir quem entra, é melhor ter uma pessoa que quer sua startup dentro do que dez que acham você legal. A 500 é horizontal o suficiente para eu acreditar que qualquer um pode ser o seu “campeão” — não necessariamente um Partner. Não é claro, no entanto, o quanto a hierarquia pesa na decisão. Você não vai conseguir descobrir quem foi o seu campeão no processo. Sim, eu perguntei. Não, eles não falam nem sob tortura.

Voltando ao nosso caso. Ao passar para a segunda fase, precisávamos tomar uma decisão: fazer a entrevista via Skype ou ir até Mountain View e fazer presencialmente. A 500 não cobre seus custos de viagem no processo, caso decida pelo presencial. Como foi durante todo o processo, nós conversamos com vários founders que passaram pela 500. Convencemo-nos de que valia o investimento para fazer a entrevista presencialmente. Herança do meu pai, eu sempre fui (excessivamente) precavido quanto ao horário dos meus compromissos, qualquer que seja o mesmo. Assim sendo, com três horas de antecedência (três!), eu estava em frente ao prédio 444 da Castro St em Mountain View, me certificando de que eu não iria me perder no caminho. Mal eu sabia que é impossível se perder nessa cidade. É claro que eu não iria esperar por três horas no sofá da 500, então me instalei no café da próxima esquina. Desta forma, eu poderia chegar no horário que as pessoas normais chegam.

Com base em experiências passadas de outros founders, eu me preparei para três blocos de ~dez minutos, cada um com pessoas diferentes do time da 500. Doce ilusão.

Minha entrevista foi em um bloco só, com três pessoas. Uma Partner, uma EIR e um membro do time de Distro. Na seção eu explico o que esses termos significam.

A conversa durou mais ou menos 40 minutos. Nossos números eram bons, fazendo com que tração e unit economics não fossem uma preocupação. Grande parte da entrevista foi sobre o problema que a gente resolve e nossos clientes. Eu contei porque a gente criou o Edools, o quanto a gente conhecia nossos clientes e como isso moldou nossa visão para o negócio.

O Edools é consequência direta do nosso trabalho na Bizstart, ajudando empreendedores a construírem startups. A Bizstart respira customer development. Conhecer problema e entender cliente é algo que sempre correu na nossa veia. Falar sobre isso era a coisa mais fácil do mundo para mim. Quando a conversa enveredou para esse lado, eu deitei em cima. Eles foram gostando do que ouviam e eu continuei. O que eu quero ressaltar aqui é que isso funcionou muito bem para a gente. Eu não consigo afirmar se isso funcionaria para você.

A EIR que estava na nossa entrevista é uma persona ideal para o nosso produto. SCORE! Não sei dizer se foi sorte. Talvez ela estivesse lá justamente por isso. Fato é que ela estava passando pelas dificuldades de se trabalhar com cursos online e o Edools era música para seus ouvidos.

Nem tudo foram flores, claro.

— Quanto você cobra?, perguntou o Distro. — X., respondi. — E porque você não cobra o dobro disso?, retrucou com leve incisão.

Eu não tinha uma boa resposta para essa pergunta.

— Eu não tenho uma boa resposta pra essa pergunta., falei.

Sem pânico, porém. A 500 sabe mais do que ninguém que não ter todas as respostas é condição sine qua non de empreender.

Eu saí da entrevista confiante. Áudios no WhatsApp contaram aos meus sócios como tinha sido. Uma semana e meia depois, recebíamos a notícia de que havíamos sido aprovados.

DNA da 500.

A 500 Startups é um fundo de investimento focado em empresas early stage. A aceleradora é apenas um dos formatos de investimento do fundo. Eles participam também em rodadas de Seed e Series A, em empresas que foram aceleradas por eles ou não.

O deal do programa de aceleração é bem simples: 125 mil dólares por 5% da empresa e um fee de 25 mil pelo programa em si, resultando em 100 mil líquidos. Esse deal passou a ser válido a partir do Bath 14 (timing’s a bitch). O Edools fez parte do Batch 13 e, portanto, nós assinamos o deal anterior: 100 mil dólares e o mesmo fee de 25 mil, por 7%. Os termos evoluíram ao longo do tempo, seguindo o mercado e aumentando a competitividade da aceleradora. A tendência é que a cada atualização, ele fique ainda melhor para os founders.

Este é o lado boring da 500 Startups. É o que a coloca ao lado de todos outros VC’s do Vale. O outro lado é a alma da 500 Startups. É o que faz você ser fucking proud em fazer parte da 500 Family.

Diversity is not just a strategy or tactic.
It’s who we are. — Site da 500

A 500 Startups investe em todo tipo de founder, independente de sotaque, gênero, etnia e orientação sexual. O próprio time da 500 tem diferentes sotaques, gêneros, etnias e orientações sexuais. Como eles evidenciam no site, isso não é apenas estratégia, é a alma do fundo.

Então a 500 tem uma espécie de missão social? Não.

Big fucking não.

A 500 é um VC. A 500 faz investimentos de alto risco buscando retornos financeiros muito altos. A 500 quer ganhar dinheiro; e faz isso investindo nos melhores founders que eles conseguem encontrar. Por acaso, eles não consideram que os melhores founders são, necessariamente, americanos homens héteros caucasianos. Isso separa a 500 de 90% dos investidores do Silicon Valley.

“I’m a greedy fucking bastard. We’re doing this because we think we’re going to make money. For the same reason we invest in women and minorities. We think they’re under-priced assets that the rest of the world is missing.”

— Dave McClure

Sim, o portfólio deles tem muitos americanos homens heteros caucasianos. Talvez seja a maioria — eu não sei dizer. Mas é inegável que a 500 puxa a fila quando o assunto é diversidade no mercado de T.I. Iniciativas como 500 Women, syndicate no AngelList focado em female founders, reforçam essa posição.

A imagem está desatualizada. Hoje, são dois unicórnios no portfólio: Twillio e Credit Karma.

Bonito é que ser diversa no DNA não é a única coisa que faz a 500 Startups ser relevante. Seu programa de aceleração corre, junto à Y Combinator, na ponta. Eu diria que são as duas principais aceleradoras do mundo e não creio que muita gente vá discordar. Em termos de resultados do portfólio, ninguém chega perto da YC, porém. Mas a 500 vem caminhando com bastante solidez. Outra que vale a pena ser mencionada é a TechStars, de onde já ouvi ótimas referências.

O programa.

Começando o programa, são designados para cada startup dois membros do time da 500: o POC e o DPOC. Siglas para Point of Contact e Distro Point of Contact.

E a vista do escritório é ótima.

O POC é um Entrepreneur in Residence. Geralmente, um founder de uma startup que passou pela 500. São os principais pontos de apoio às startups. Essa é a pessoa com quem você vai conversar sobre tudo. Tudo. Eles já estiveram no seu lugar, tendo sucesso ou não, e sabem exatamente os desafios que você está passando. Você vai se encontrar semanalmente com seu POC e falar não só de business, mas da briga que você teve com seu sócio. Ou da semana de merda que foi a passada. Ou do cliente que você conseguiu fechar ontem.

Você também vai se encontrar semanalmente com o seu DPOC, mas essa conversa tem um foco claro: crescimento. Canais de distribuição — ou growth de uma forma geral — talvez seja a maior expertise da 500. O DPOC é uma pessoa MUITO boa nisso que vai te acompanhar e orientar durante todo o programa. Basicamente, o Distro Team é um time de growth hackers à serviço das startups.

Apesar dos dois contatos designados, você tem 100% de liberdade para acessar qualquer um do time e pedir ajuda. Em pouco tempo, inclusive, você vai começar a conhecer as pessoas e identificar aonde cada um pode te ajudar melhor.

Chris Nolet foi nosso POC e Andrei Marinescu o DPOC. Chris fundou o App.io e é um dos caras mais legais que eu conheci durante esses quatro meses. Conhece profundamente os struggles de ser um founder. O Andrei foi do time de growth do Hulu e é um mestre na arte de otimizar conversão de usuários.

Meu amigo e batchmate Abdullah, founder do Fishfishme, escreveu um post sobre alguns membros do time, entitulado The 500 Startups Army. Além do Chris e Andrei, POC e DPOC do Edools, faço questão de destacar outros dois. Elizabeth Yin foi a responsável pelo Batch. Ela assumiu essa posição pela primeira vez no B13, substituindo Sean Percival, que passou a focar em outras atividades. A Elizabeth é uma founder incrível, cascorada pela trajetória da Launchbit, sua startup. A outra pessoa que merece destaque especial é Rob Neivert. O cara sabe de tudo um muito e é um mestre na arte de pitch prep. No fim do programa e auge do stress da preparação para o Demo Day, ele passou inúmeras horas com os founders, incluindo eu mesmo, dando feedbacks certeiros e apontando os pontos de melhora a uma precisão de segundos.

Além do próprio time interno, a 500 tem sua rede de mentores. Uma puta duma rede de mentores. Eu não vou me alongar, mas só dizer que é muita gente. E muita gente foda. Soma-se à isso toda a rede de founders investidos pela 500 e dispostos a te ajudar.

A rede que você passa a ter acesso é enorme e extremamente qualificada. O time completo e os pontos de contato designados para as startups fazem o programa ter um approach diferente da média, estando sempre bem próximo das startups. Como eu falei, mesmo que o founder seja 100% passivo (o que seria um desperdício), ele no mínimo irá se encontrar uma vez por semana com seu POC e DPOC.

Ao longo do programa, acontecem várias talks de diferentes formatos, sobre diferentes assuntos. Cada semana tem um tema, agrupando várias talks que o orbitam. No início, o volume é grande. Grande o suficiente para você ter que avaliar quais participar, do contrário não vai ter tempo para trabalhar. À medida que o tempo passa, o número vai diminuindo. À época pré-Demo Day, elas já começam a ser raras (e você gostará disso).

Um destaque: marketing hell week. O nome não é por acaso. Uma tonelada de talks sobre os assuntos mais variados em torno de marketing. Google AdWords. Conversão de landing page. Webscrapping. Referral marketing. Storytelling.

Tenha em mente que cada uma dessas talks é dada por alguém que entende MUITO do riscado — pessoas do time ou mentores. Sem bullshit.

Tim Chae, partner da 500, deu uma palestra de uma hora chamada Fundraising 101. Eu não sofro do complexo de vira-lata, mas não posso negar que Fundraising 101 no Vale é um MBA em Fundraising no Brasil. Excelente palestra.

Jason Lemkin, founder da EchoSign (adquirida pela Adobe), falou sobre os 10 erros mais comuns na hora de montar um time de vendas. Essa talvez tenha sido a melhor palestra que eu assisti.

Esses foram apenas dois exemplos que eu me senti na obrigação de destacar. A maioria das palestras tem transmissão ao vivo e pode ser acompanhada por qualquer um no canal da 500 do Livestream.com.

Algumas talks são off-record. Essas talks são um dos pontos altos da experiência no programa e eu separei uma seção para falar sobre isso. Eram os Fireside Chats.

O impacto do programa.

Esta é a parte mais difícil de se escrever sobre. Começo fazendo uma separação do impacto que passar pelo programa tem: o pessoal e o “corporativo”. Ou seja, o impacto em mim, Bernardo, e o impacto no Edools. Claro que em muitos pontos há um overlap entre os dois.

We all want to be Unicorns.

Começando pelo óbvio: o investimento. Foram 75 mil dólares para o Edools e, a partir do Batch 14, passaram a ser 100 mil dólares. Não é um investimento alto, mas também não é de se jogar fora — especialmente se você for pre-revenue, ou ainda tiver uma receita muito pequena.

No nosso caso, não foi determinante. Grana é sempre bem-vinda, mas não foi o que mais pesou na nossa decisão. Não precisávamos do investimento pra sobreviver. O quanto essa grana será importante é uma avaliação sua e depende muito do estágio da sua empresa. Mas, com o dólar na situação que está, 100 mil dólares está cada dia mais bonito em uma conta bancária. Um ponto importante: a vida na Bay Area é cara e o aluguel é um escárnio. O quanto você vai extrair do investimento também é decisão sua. Levar um founder só, dividindo um quarto com cinco pessoas. Ou levar todos, com família, vivendo confortavelmente. Pedir asilo na igreja. Juntar-se à comunidade homeless de San Francisco. Um leque de opções. Mas claro que isso não é diferente do que qualquer outro investimento que você receber.

O quanto o programa de aceleração impactará sua startup também é difícil de avaliar.

No início de 2014, nossa receita era pequena, mas suficiente para mostrar product market fit. Ao longo deste mesmo ano, nós crescemos em um ritmo frenético, saindo de 5 para cem clientes e atingindo uma receita que bancava um time de dez pessoas. Quando entramos no programa da 500, ao fim do primeiro quarter de 2015, o Edools estava struggling para subir um degrau complicado. Struggling é uma palavra inglesa que eu gosto muito. Podendo ser traduzida para algo como “batalhando”, mas sem a mesma carga de significância que ela tem na língua original.

Este degrau é o primeiro cheiro de escala na vida de uma startup. Sair de 10 para cem clientes é difícil, mas sair de cem para mil é muito mais.

Hoje, eu vejo que estamos no caminho certo para subir esse degrau. No começo do programa, eu não diria isso. Agora, a coisa começa a ficar complicada de explicar. Não foi o programa em si que colocou a gente no eixo, apesar de ter contribuído muito. Fomos nós mesmos — mas estar na 500 foi fundamental.

Eu arriscaria dizer que entrar no programa da 500 nos alertou que estávamos subindo de nível. Repare: não foi o investimento que nos fez subir de nível. Foi cliente e $$ no caixa. Porém, de certa forma, eu sinto que foi a entrada na 500 que deixou isso claro. Estar no programa foi um timing perfeito e, como eu disse, contribuiu para nossa evolução.

O que eu quero dizer é que eu vejo um Edools muito melhor hoje do que há quatro meses atrás. Eu não sei dizer o quanto a 500 foi importante nesse processo. Mas eu posso dizer que, sem a 500, não teríamos evoluído tanto em tão pouco tempo.

Acredito que quanto mais early stage você for, mais o programa em si — o conteúdo e a orientação — será determinante para você. Nós estávamos no top 20% das empresas do batch em termos de receita e, modéstia à parte, não somos tão garotos assim. É por isso que eu digo que o fato de na 500 foi mais importante para nós que o programa em si. É óbvio que tiramos muita coisa de lá — não me entenda mal.

Fireside Chat.

O Fireside Chat é uma tradição da aceleradora. No escritório, recebe-se um founder, que conta suas histórias, moderadas por alguém do time da 500. A conversa é informal e 100% off-record. Ao contrário das talks, não há transmissão ao vivo. Pede-se para evitar tweets ou quaisquer posts sobre as histórias pessoais contadas ali.

Para mim, os Fireside Chats eram a essência da experiência que você, como founder e pessoa, vive no programa. São conversas em que, embora seja provável que aconteça, você talvez não vá levar nenhum ensinamento para a empresa. Porém, pode mudar a forma como você enxerga as coisas. São founders da 500 Family, com sucesso ou não, compartilhando suas merdas e glórias. Ouvimos dois garotos do Batch 0 contarem como foram adquiridos pelo Google. O CEO do Philz Coffee dar uma aula de como manter a alma de uma empresa em rápido crescimento e as nuances da relação com seu pai, fundador da empresa. Sean Percival, partner da 500, falar sobre depressão e suicídio entre founders, tabu que Silicon Valley tem dificuldade em endereçar. Entre outras tantas que ocorreram quase todas as quartas, com jantar e cerveja de graça.

O Batch 13 elevou essa tradição à potência máxima, no entanto. Certo dia, estávamos no condomínio de um dos times, que acolheu um festival de comida internacional. Cada empresa levara algo tradicional do seu país (a aceitação da goiabada com queijo foi altíssima). Um grupo de founders estava sentado ao redor de uma espécie de fogueira artificial, onde o fogo ateia por cima de uns cristais parecidos com pedras de anfetamina. Brega para cacete. Um das pessoas ali, por algum motivo que não me lembro, contou uma história pessoal importante para ele. Alguém brincou que aquele era o verdadeiro fireside chat. Outro alguém sugeriu que todos compartilhassem alguma história relevante para si próprio, independente do motivo. Começou ali o que eu considero a coisa mais bacana que aconteceu durante nosso batch. Nós mesmos passamos a fazer nossos Fireside Chats.

No escritório, uma roda de umas 20 pessoas, onde todos tinham três minutos para contar uma história que, por algum motivo, fora importante em suas vidas. Foram histórias inspiradoras, engraçadas, inacreditáveis.

Considera-se o fato de que o B13 foi o mais internacional da história da 500 até agora, onde 61% das empresas tem ao menos um founder de fora dos Estados Unidos. Reino Unido, China, Argentina, Uruguai, Singapura, Taiwan, Australia, Estônia, Nova Zelândia, Coréia do Sul, Holanda, Hong Kong, Itália, Brasil, Rússia e Kuwait eram alguns dos muitos países representados. Outro dado interessante: 46% das empresas tem ao menos uma founder mulher no time.

Mora na minha to-do list uma coleção de contos inspiradas por essas histórias. Um casal de co-founders prestes a noivar e uma aliança presa na alfândega da Nicarágua. Um pai dirigindo por 12 horas para resgatar sua filha em um posto de polícia, depois de fugir do internato em que ele mesmo a havia colocado. Uma sessão de Ayahuasca na esperança de curar uma experiência pós-traumática. Um co-founder em crise por não saber mais o seu papel dentro da empresa. Perseguições policiais cujo único objetivo era testar habilidades ao volante.

Entenda: coloca-se 32 startups e 90 pessoas em um mesmo escritório, por quatro meses. São empresas e pessoas do mundo inteiro, que passaram por um crivo extremamente rigoroso para estar lá. Apesar de estarem fazendo coisas muito diferentes, todos tem o mesmo objetivo: construir uma startup que consiga se destacar em um mar de outras milhares no Vale do Silício.

O resultado é um grupo que acaba ficando muito próximo porque vê entre si a única forma de alguém entender aquela situação de extremo estresse que se submeteram. Os Firesides Chats foram a cereja do bolo no processo de conhecer uma penca de founders incríveis, construindo a próxima geração de negócios de alto impacto no mundo.

Tinha tempo para festa. No sentido horário, a partir do canto superior direito: Clowder, Omate, Clowder, Storygami, Clowder, GROM, Edools e Storygami.

Não se deixe enganar pela melancolia, no entanto. No meio da loucura, tinha happy hour, festa quase toda sexta e Drunk Pitch Prep (é, um shot para cada erro no pitch). Dê uma olhada no vídeo de apresentação do batch para ter uma ideia de que, apesar do trabalho sério, seriedade quase nunca é o tom quando se é parte da 500 Startups.

Valeu a pena ê ê?

AKA “Devo aplicar?”

Long story short: sim. Meu sentimento é de que, para o Edools e para mim, valeu a pena. Por todos motivos explicados aqui.

Meu sentimento generalista é de que valeria a pena para sua empresa também, provavelmente por outros motivos. Considere aqui “sua empresa” como uma startup early stage, com um produto na rua e um time dedicado full-time.

Também existem milhões de motivos para não entrar na 500 Startups e eu deixo para você fazer essa avaliação. Espero que este relato possa ajudar de alguma forma.

Se você está na dúvida se o deal em si é vantajoso, sugiro ler o The Equity Equation, do Paul Graham. Para nós, essa conta fechou.

Batch 15.

As inscrições para o Batch 15, também em Mountain View, estão abertas.

Se você está pensando em aplicar, fico feliz em compartilhar mais e conversar sobre o seu negócio. É só me mandar um email em bernardo@kircove.me. Você pode também falar com meus sócios Rafael e Maurilio.

Adianto, porém, que você precisa responder para essas três perguntas:

  • Você tem um time dedicado full-time ao negócio?
  • Você tem um produto lançado (ok, ou muito próximo de ser lançado)?
  • Você está disposto a dar o sangue pra fazer esse negócio dar certo?

Agora aproveita e me segue no Twitter ;) @bkircove

E olha nós com o Dave :)

Notas que valem uma nota:

  • O é a plataforma de EAD perfeita para você.
  • Apesar de sermos a única startup brasileira do batch, havia um outro representante tupiniquim: meu amigo Gabriel — ou Gabe — , radicado nos E.U.A. há muitos anos e co-founder do EnvoyNow.
  • Toda terça e quinta tem almoço grátis, powered by EatClub. A comida é mais ou menos, mas, hey, free food.
  • Se tiver tempo, visite o Yosemite.
Fileira de cima, da esquerda para direita: LinguaTrip, LinguaTrip, Results On Air, Nancy, Storygami, Publishizer, LinguaTrip, Results On Air. Fileira de baixo, da esquerda para direita: GreenWay Labs, Omate, Omate, Edools, Storygami, GreenwayLabs, Publishizer, Results On Air.
  • Prepare-se para MUITO ping-pong.
  • Não há muito o que fazer em Mountain View. Essa é parte da razão do batch acabar se unindo tanto.
  • Você talvez seja alvo de uma zuada de um membro da alta cúpula da 500, cuja identidade eu protegerei aqui.
Não seria nada mal.

Now let’s get back to fucking work.

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